PARTICIPAÇÃO DE INSTRUMENTOS MATERIAIS NA CONFIGURAÇÃO DE AÇÕES CONJUNTAS EM ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Abstract

O uso de instrumentos materiais impacta a atividade humana e sua relação com o mundo. De acordo com a teoria Sócio-histórica, os artefatos são elementos socioculturais e, portanto, desenvolvidos para atender a padrões específicos de ser humano, os quais, muitas vezes, se distanciam do design corporal das pessoas em situação de deficiência. Por esse motivo, ainda que os estudos voltados às temáticas educacionais destaquem a potencialidade pedagógica dos instrumentos, as ferramentas materiais também devem ser analisadas como elementos culturais produzidos majoritariamente para atender pessoas sem limitações biológicas, de modo que a discussão sobre acessibilidade e compensação social também deve englobar esses elementos. Assim, o presente trabalho teve como objetivo investigar, a partir da Teoria Sócio-Histórica de Vigotski, o papel exercido pelos instrumentos materiais no processo ensino-aprendizagemdesenvolvimento de pessoas em situação de deficiência. Para isso, foram analisados os dados videográficos com registros de interação entre díades professora vidente e aluno em situação de deficiência visual, coletados para a realização de pesquisas de Iniciação Científica, além de um relato de caso de materiais e recursos utilizados nas experiências de estágio em Psicologia Clínica com Ênfase Psicopedagógica, ambos da Universidade Federal da Paraíba. A partir das análises realizadas, aponta-se que o processo de mediação e as estratégias pedagógicas apresentam tal relevância na interação que podem transformar e subverter a finalidade para a qual determinado instrumento material foi produzido. Além disso, ainda que o uso de instrumentos apresente diversas possibilidades, estas podem se realizar como limitações ao desenvolvimento de ações conjuntas - a partir do momento que as estratégias pedagógicas não são adaptadas às necessidades específicas da pessoa em situação de deficiência. Conclui-se, desse modo, que a mera presença de um instrumento material não promove, necessariamente, aprendizagem e desenvolvimento, uma vez que os artefatos, por serem elementos culturais que interferem nas interações humanas, não podem ser completamente separados dos demais recursos utilizados nos ambientes educacionais, particularmente dos signos, gestos e registros.