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https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/27072
Tipo: | Tese |
Título: | Conhecimento ecológico de populações indígenas e tradicionais sobre animais silvestres e uso de barreiros na Amazônia |
Autor(es): | Pereira, Franciany Gabriella Braga |
Primeiro Orientador: | Alves, Rômulo Romeu da Nóbrega |
Resumo: | A conservação da biodiversidade da Amazônia está vinculada a estimativas de abundância bem como ao monitoramento populacional das espécies silvestres. No capítulo 1 desta desse, apresento os bastidores do doutorado bem como uma introdução geral do que será abordado nesta tese. Existe a necessidade de padronizar métodos eficazes para a estimativa de abundância da fauna. Por isto, no capítulo 2 desta tese, comparamos dados de abundância de 91 espécies silvestres obtidos através de transectos lineares (9.221 km de trilhas) com dados obtidos a partir de 291 entrevistas estruturadas em 18 locais na Amazônia Central e Ocidental. Encontramos uma concordância significativa dos índices de abundância populacional para espécies diurnas e cinegéticas entre os dois métodos. Essa relação também foi positiva independente da sociabilidade da espécie, tamanho corporal e modo de locomoção; e do tipo florestal amostrado (florestas de terra firme e de várzea). No entanto, os transectos lineares não foram eficazes no levantamento de muitas espécies que ocorrem na área, com 40,2% e 39,8% de todas as espécies sendo raramente e nunca detectadas, respectivamente, em pelo menos um dos locais amostrados. Por outro lado, essas espécies foram amplamente relatadas por informantes locais como ocorrendo em abundâncias intermediárias a altas. Demonstramos a eficácia dasdas entrevistas para estimativa de abundância. Entretanto, precisávamos ainda saber quem deveriam ser os entrevistados em estudos de estimativa de abundância e sobre quais espécies poderíamos perguntar. Para isto, no capítulo 3, analisamos o grau de consenso sobre a abundância de 95 espécies entre 333 pessoas com diferentes características sociais e de experiências com a vida selvagem em 20 vilas com características demográficas distintas na Amazônia Ocidental e Central. Encontramos um alto índice de consenso (>0,6) quanto à abundância populacional da espécie para todas as vilas e para 79,64% dos entrevistados. O consenso entre os moradores de cada vila foi significativamente maior quanto menor o tamanho da população da vila. O valor de consenso também foi alto independentemente do tempo de caça dos entrevistados. Considerando todas as 95 espécies, encontramos para 81 Franciany G. Braga Pereira 12 (85,26%) um valor de consenso alto em todos os locais amostrados. Espécies com maiores valores de consenso sobre sua abundância são aquelas de grupos de tamanhos maiores, mais abundantes e mais caçadas. Além de informações sobre a fauna na floresta como um todo, moradores locais sabem falar com exatidão sobre a abundância e comportamento das espécies em locais específicos, e foi a partir deste contexto que desenhamos os capítulos 4 e 5 desta tese. Particularmente em relação àà caça, em algumas regiões da Amazônia, 25% das atividades de caça ocorrem nos barreiros (chamados localmente geralmente de chupador no Brasil e colpas no Peru). Estes são locais com maior concentração de minerais naturais no solo e que estão localizados próximos dos igarapés, portanto sujeitos a inundações periódicas. Nestes locais, os caçadores montam suas redes meio as árvores nos barreiros para esperar os animais cinegéticos que visitam o local para consumo do solo. Este comportamento de consumo do solo pelos animais ocorre com o objetivo de suplementação mineral, bem como de desintoxicação do seu corpo. Em um local visitado por tantas espécies, durante as longas horas que os caçadores passam esperando a espécie alvo no barreiro, estes caçadores podem também observar com atenção o comportamento de outras espécies visitantes do local. No capítulo 4, a partir de entrevistas semi-estruturadas obtivemos informações sobre 31 espécies de vertebrados visitando 56 barreiros em duas regiões da Amazônia Central. Em termos de tipos de barreiros, encontramos três classificações distintas a depender do tamanho do barreiro, riqueza de espécies visitando o local e período de alagamento pela água do igarapé (são eles: barreiro, chupador e canamã). Apesar do consumo de solo e água nos barreiros serem os principais atrativos das espécies silvestres que visitam esses locais, as espécies identificadas nas entrevistas como usuárias dos barreiros tem também como objetivo de visita a predação e outras relações ecológias, bem como banho e outros comportamentos. Em geral, a estação de maior abundância de animais silvestres nos barreiros foi a vazante, quando o nível da água dos igarapés diminui e assim o barreiro fica exposto. Ou seja, apesar de tão importante, a disponibilidade de solo consumível pelas espécies é alterada pelo pulso d’água. Além dos barreiros naturais, a maior concentração de minerais Franciany G. Braga Pereira 13 nos solos amazônicos também tem sido gerada pela indústria de extração de petróleo, por meio da contaminação do solo pelas “águas produzidas”, principal subproduto dessa indústria e que inclui alta concentração de minerais. No entanto, solos poluídos por petróleo também contêm alta concentração de compostos petrogênicos tóxicos. Através do conhecimento local foram identificados locais contaminados por petróleo na Amazônia onde os animais silvestres consomem o solo. No capítulo 5, investigamos e descrevemos a geofagia do solo e da água poluídos por petróleo por 26 espécies de mamíferos e aves através da análise de 8.623 vídeos gravados a partir de armadilhas fotográficas em três barreiros naturais e em dezesseis barreiros poluídos por petróleo localizados em uma concessão de bloco de petróleo na Amazônia. Documentamos um total de 3.818 visitas independentes de 26 espécies, tendo 62,3% dessas visitas provas de ingestão de solo por 18 espécies diferentes. Considerando as visitas com ingestão de solo, Tapirus terrestris foi responsável por 69,58% das visitas, seguida de Mazama americana (13,75%). Não encontramos diferença significativa na frequência de visitas em barreiros naturais quando comparadas com barreiros contaminados com petróleo, sendo alta a taxa de visitação em ambos. Esses resultados fornecem dados relevantes para confirmar que o comportamento geofágico pela fauna não é um fenômeno incomum em barreiros contaminados, mas sim um comportamento generalizado em áreas de extração de petróleo na Amazônia. Este resultado é ainda mais preocupante pois esses compostos podem bioacumular nos tecidos dos animais e alguns podem até biomagnificar através da cadeia alimentar, incluindo nos predadores de topo e também nas populações humanas locais. Chegamos ao fim desta tese concluindo que a combinação do conhecimento local e científico é uma ferramenta potencial para aprimorar nosso conhecimento sobre as espécies florestais tropicais e monitorar espécies e ambientes tão ameaçados por atividades de extração de petróleo. Estruturando desta forma estratégias mais eficazes para atingir as metas de conservação da biodiversidade. |
Abstract: | Effective estimation of wildlife population abundance is an important component of population monitoring, and ultimately essential for the development of conservation actions. As the conservation research community faces the need to standardise effective methods for estimating fauna abundance, in chapter 2 of this thesis, we compared concomitant abundance data for 91 wild species from diurnal line transects (9,221 km of trails) and a LEK-based method (291 structured interviews) at 18 sites in Central and Western Amazonia. We found a significant agreement of population abundance indices for diurnal and game species. This relationship was also positive regardless of species sociality, body size and locomotion mode; and of sampled forest type (upland and flooded forests). However, line transects were not effective at surveying many species occurring in the area, with 40.2% and 39.8% of all species being rarely and never detected in at least one of the survey sites. On the other hand, these species were widely reported by local informants to occur at intermediate to high abundances. We demonstrate the effectiveness of interviews for abundance estimation. However, we still needed to know who should be interviewed in abundance estimation studies and about which species we could ask. For this, in chapter 3, we analysed the degree of consensus about the abundance of 95 species among 333 people with different social and wildlife experiences characteristics in 20 demographically distinct sites in the Western and Central Amazon. We found that village consensus was significantly higher the lower the population size of a given village. However, a high score of consensus (>0.6) was find regarding the species population abundance for all of the sampled villages and for 79.64% of the interviewees. The consensus value was also high regardless of the interviewees' hunting experience. Considering all 95 species, we found a high consensus score in all 20 sampled sites for 81 species (85.26%). Species that have greater consensus scores about their abundance are those living in larger sized groups, more abundant and more hunted. Specifically in relation to hunting, in some regions of Amazonia, 25% of the hunting activities occur in the salt licks, which consist in places with a higher concentration of natural minerals in the soil and which is Franciany G. Braga Pereira 16 often found on the edges of creeks, therefore they are liable to periodic flooding as the level of water rises. The hunters hang their nets above the salt licks and wait for game animals to visit to ingest the mineral-rich soil. In the Amazon rainforest, animals exhibit geophagical behaviour in salt licks to obtain key mineral supplementation and detoxicate from plant secondary compounds, reducing digestive disorders in their bodies. In a place visited by so many wild species, during the long period that hunters spend there waiting for the target species, hunter can also acquire a high level of knowledge about species that pass-through salt licks during the year. Through LEK- based methods, in chapter 4, we obtained information on 31 species of vertebrates visiting 56 salt licks in two regions of Central Amazon through different seasons. In terms of types of salt licks, we found three distinct categories (barreiro, chupador and canamã) depending on the salt lick size, animals’ visit period, and the diversity of visitors, as well as by the flooding period of the creeks water. Despite soil and water consumption in salt licks being the main attraction of wild species visiting these sites, species identified from the interviews as users of the salt licks also visit the place for bathing, predation and other ecological relationships and behaviours. In general, the season with the highest abundance of wild animals was the receding floodwaters season, because in this period the water level of creeks decreases and so the salt lick is exposed. In addition to natural salt licks, the higher concentration of minerals in Amazon soils has also been generated by the oil extraction industry, contaminating the soil with “produced waters”, the main by-product of this industry and which includes a high concentration of minerals. Additionally, oil-polluted soils also contain high concentrations of toxic petrogenic compounds. Through local ecological knowledge, oil-contaminated sites where wild animals consume the soil were identified in Western Amazon. In chapter 5, we investigated the geophagy of oil-polluted soil and water by 26 species of mammals and birds through the analysis of 8,623 videos recorded from a camera trap programme in three natural salt licks and sixteen oil-polluted salt licks located in an oil block concession in Amazon rainforest. We documented a total of 3,818 independent visits from 26 species, with 62.3% of these visits displaying soil ingestion Franciany G. Braga Pereira 17 proofs from 18 different species. Considering visits with soil ingestion, Tapirus terrestris accounted for 69,58% of the visits, followed by Mazama americana (13,75%). We did not find a significant difference in the visit frequency for natural salt licks when compared to oil-polluted salt licks, with the visitation rate high in both. Our results provide relevant data to confirm that geophagy by wildlife is not an unusual phenomenon in oil-polluted salt licks, but rather a widespread behaviour in oil extractive areas in the Amazon. Even worst, these compounds can bioaccumulate in animals’ tissues and some can even biomagnify through the food chain, including top predators and also local human populations (whose subsistence depends on wild meat). This makes the consumption of oil-polluted soil a major concern for conservation biodiversity and public health. |
Palavras-chave: | Vertebrados - Amazônia Armadilha fotográfica Ciência cidadã Conhecimento local - Ecologia - Amazônia Monitoramento participativo Entrevistas Mamíferos Camera trap Interviews Local knowledge Mammal Vertebrates |
CNPq: | CNPQ::CIENCIAS BIOLOGICAS::ZOOLOGIA |
Idioma: | por |
País: | Brasil |
Editor: | Universidade Federal da Paraíba |
Sigla da Instituição: | UFPB |
Departamento: | Zoologia |
Programa: | Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas |
Tipo de Acesso: | Acesso aberto Attribution-NoDerivs 3.0 Brazil |
URI: | http://creativecommons.org/licenses/by-nd/3.0/br/ |
URI: | https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/27072 |
Data do documento: | 25-Fev-2022 |
Aparece nas coleções: | Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN) - Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas |
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