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https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/30840| Tipo: | Outro |
| Título: | Agruras da lata d'água |
| Autor(es): | QUIRINO, Jessier |
| Resumo: | Jessier Quirino, como um bom filho de exatas que tem um dedo em humanas, trabalha milimetricamente em seus poemas. Podemos classificar de uma oralidade e, porque não um grande apelos às raízes nordestinas com seus repentistas e cordelistas. Auguras é um livro que deve ser lido de forma lenta e pensativa, uma mesclagem de prosa e poesia com a maestria do Jessier. não é apenas o espetáculo cantado com o mesmo nome, é a visão mais genuína de nós nordestinos. Há poemas que, como diria João Cabral, pedem para ser ditos “em voz alta”. Toda Poesia de Jessier Quirino é assim, não se contenta com leitura silenciosa e transborda numa oralidade compulsória. À medida que lia “Agruras da Lata D’água”, na salinha do Museu da Imagem e do Som, onde trabalho, fui sentindo vontade de que outros ouvissem o que lia, de compartilhar a leitura com os colegas de trabalho, e terminei lendo em voz alta para dois deles alguns fragmentos dos poemas que considerei mais criativos. É uma poesia que, por sua própria natureza, quer se mostrar, pede palco e público numerosos. Nisso, a sua consanguinidade com a produção ancestral dos violeiros repentistas do Nordeste. A maior parte da chamada poesia erudita, poesia de livro, da modernidade, parece ser feita para ser lida em recolhimento; pede reflexão e silêncio, como um sussurro do espírito. Mas, depois que o poeta Bruno Tolentino leu alguns de meus poemas em verso branco, dando-lhe um tom ao mesmo tempo coloquial e solene, cheguei à conclusão de que essa poesia em vez de baixa, que deseja ser sussurrada, também pode ser dita em voz alta, mas requer, para isso, uma oralidade específica, longe da teatralidade patética da Rede Globo quando, por alguma falha técnica, cisma em divulgar um poema. A poesia de Jessier requer a oralidade de um discurso cadenciado, mais violeiro e, por isso, mais agressivo e ousado, pois ele usa e abusa, inclusive, de neologismos, como neste fragmento de ‘Sóbrio”: “Se vaga-lumas na noite, Eu me vaga-lumarei, Se beberes rum-com-coca, Eu também rum-cocarei, E se tu café-com-leitas, Eu café-confeitaria”. Há na poesia de Jessier uma opção clara pelo humorismo, coisa rara na poesia moderna, pois o poema-piada dos modernistas de 22 quase não teve seguidores. No entanto, os violeiros repentistas, que nada têm a ver com aqueles poetas ricos que riem à toa, nunca abandonaram o humor, principalmente nas pelejas, onde as duplas fingem estar brigando. Jessier tem mais esse parentesco com os nossos Simônides nordestinos. A quase totalidade da poesia erudita moderna é sisuda demais, e mais triste do que a maioria do nosso povo. Não sei se porque, já prevendo uma profunda transformação no mundo rural, em virtude da força homogeneizadora dos meios de comunicação e das novas tecnologias, Jessier Quirino, desde seu primeiro livro, vem fazendo uma espécie de entografia poética dos valores, hábitos, utensílios e linguagem do agreste e do sertão nordestinos. É um levantamento feito com muita minúcia, fruto de sua extraordinária capacidade de observação, de observador participante. Sua obra, não tenho dúvidas, além de seu valor estético cada dia mais comprovado, vai futuramente servir como documento e testemunho de um mundo já então engolido pela voragem tecnológica. O pouco que não me agrada em seu trabalho – a grafia “matuta” e o baixo calão – fica por conta das idiossincrasias necessárias para que haja pluralidade de tendências de expressão, sem as quais seriamos, os poetas, aborrecidamente parecidos uns com os outros. Afinal, a arte pode ser comunista, mais nem tanto. Recife, 23 de Agosto de 1998. |
| Abstract: | Jessier Quirino, like a good son of an exact sciences who has a finger in the humanities, works meticulously on his poems. We can classify them as orality and, why not, a great appeal to the Northeastern roots with their repentistas and cordelistas. Auguras is a book that should be read slowly and thoughtfully, a blend of prose and poetry with Jessier's mastery. It is not just the sung show with the same name, it is the most genuine vision of us Northeasterners. There are poems that, as João Cabral would say, ask to be said “out loud”. All of Jessier Quirino's poetry is like this, it is not content with silent reading and overflows with a compulsory orality. As I read “Agruras da Lata D’água” in the small room of the Museum of Image and Sound, where I work, I felt the desire for others to hear what I was reading, to share the reading with my coworkers, and I ended up reading aloud to two of them some fragments of the poems that I considered most creative. It is a poetry that, by its very nature, wants to be shown, it demands a stage and a large audience. In this, its consanguinity with the ancestral production of the repentista violeiros of the Northeast. Most of the so-called erudite poetry, book poetry, of modernity, seems to be made to be read in seclusion; it demands reflection and silence, like a whisper of the spirit. But, after the poet Bruno Tolentino read some of my poems in blank verse, giving them a tone that was both colloquial and solemn, I came to the conclusion that this poetry, instead of being low, that wants to be whispered, can also be said out loud, but it requires, for that, a specific orality, far from the pathetic theatricality of Rede Globo when, due to some technical failure, it decides to broadcast a poem. Jessier's poetry requires the orality of a cadenced speech, more viola-like and, therefore, more aggressive and bold, since he even uses and abuses neologisms, as in this fragment of ‘Sóbrio’: “If fireflies in the night, I will firefly myself, If you drink rum-with-coke, I will also drink rum-cocacarei, And if you have coffee-with-milk, I will have coffee-confectionery”. Jessier's poetry clearly favors humor, something rare in modern poetry, since the joke-poem of the modernists of 1922 had almost no followers. However, the repentista violeiros, who have nothing to do with those rich poets who laugh for no reason, never abandoned humor, especially in fights, where the pairs pretend to be fighting. Jessier has this kinship with our Northeastern Simonides. Almost all modern erudite poetry is too serious and sadder than the majority of our people. I don't know if it's because, already foreseeing a profound transformation in the rural world, due to the homogenizing force of the media and new technologies, Jessier Quirino, since his first book, has been creating a kind of poetic enthography of the values, habits, tools, and language of the Northeastern backlands and hinterlands. It is a survey made in great detail, the result of his extraordinary capacity for observation, as a participant observer. I have no doubt that his work, in addition to its increasingly proven aesthetic value, will in the future serve as a document and testimony of a world already swallowed up by the technological vortex. The little that I don't like about his work – the "country" spelling and the foul language – is due to the idiosyncrasies necessary for there to be a plurality of expressive tendencies, without which we poets would be boringly similar to one another. After all, art can be communist, but not so much. Recife, August 23, 1998. |
| Palavras-chave: | Paraíba Literária Escritores paraibanos |
| CNPq: | CNPQ::LINGUISTICA, LETRAS E ARTES::LETRAS::LITERATURA BRASILEIRA |
| Idioma: | por |
| País: | Brasil |
| Editor: | Universidade Federal da Paraíba |
| Sigla da Instituição: | UFPB |
| Tipo de Acesso: | Acesso aberto |
| URI: | https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/30840 |
| Data do documento: | 21-Jul-2024 |
| Aparece nas coleções: | Paraíba Literária |
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