Use este identificador para citar ou linkar para este item:
https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/35584
Tipo: | Dissertação |
Título: | "Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes" : dissidentes da dissidência : rotas não binárias para a construção de outros mundos possíveis |
Autor(es): | Silva, Thalita Suyane Costa |
Primeiro Orientador: | Rocha, Jailson José Gomes da |
Resumo: | O presente trabalho investigou como gênero, sexualidade e raça se interseccionam e afetam as existências dissidentes, bem como as subjetividades cisgêneras. Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí (2021), em sua obra crítica A invenção das Mulheres, discute a perspectiva essencializante ocidental, que impõe gênero como categoria universal, negligenciando dinâmicas alternativas de organização social. Na sociedade iorubá pré-colonial, as relações eram baseadas na senioridade, porém, com a colonização, instaurou-se uma estrutura binária de gênero, apagando e marginalizando modos de funcionamento já existentes. Por meio da dominação colonial portuguesa, essa imposição também atingiu os povos originários que viviam em Pindorama. A história narrada a partir de nossas perspectivas, revela que a invasão dos colonizadores, impôs uma monocultura dos afetos, dos costumes e das vivências. Dessa forma, a não conformidade ou a resistência a essas imposições transformou indígenas e africanos escravizados em alvos de punições, torturas e extermínio. Um dos propósitos da pesquisa foi refutar a narrativa do “branco salvador”, ainda utilizada para justificar a continuidade das múltiplas violências cometidas desde a dominação colonial. Na contemporaneidade, o ciclo se repete: criado para a coerção e o controle social, o Estado, parcialmente, favorece corpos específicos: homens cisgêneros, brancos, heterossexuais, cristãos e neurotípicos. A consolidação e continuidade de um sistema que opera a favor do ideal de “normalidade” é uma das heranças coloniais que persiste nas estruturas contemporâneas de poder. Resistindo e contrapondo o conservadorismo institucional e opressor, pessoas dissidentes vêm ocupando cargos no Estado, como Erika Hilton (PSOL) e Thabatta Pimenta (PSOL). Articulando saberes produzidos por sentipensadores dissidentes, e, com ênfase nas discussões sobre gênero, sexualidade e racialidade, o estudo examinou acordos sociais, institucionais ou não, que posicionam as existências dissidentes como anormais e patológicas. Além disso, analisou como a cisgeneridade foi introduzida, naturalizada e reforçada nas instituições, discutindo formas pelas quais a cisnormatividade afeta existências binárias e não binárias. Ademais, refletiu como a imposição de padrões internos da comunidade dissidente de gênero atravessam pessoas não binárias. De caráter qualitativo, selecionei a Autoetnografia e a História de Vida enquanto abordagens metodológicas. Para explorar como a cisgeneridade afeta tanto pessoas inscritas na norma quanto pessoas dissidentes, realizei dez entrevistas semiestruturadas. As discussões foram elaboradas por meio da Análise Narrativa, a partir de uma perspectiva crítica e interseccional. A partir das experiências narradas em minha autoetnografia e dos diálogos construídos, busquei provocar questionamentos e reflexões sobre as estruturas de poder e movimentos de resistência. As descobertas desta pesquisa evidenciam que a cisgeneridade opera como um regime normativo que, apesar de aparentar neutralidade, impõe padrões rígidos e exclui aqueles que não os seguem. Identifiquei um caráter ambíguo na cisgeneridade, que oferece privilégios a quem a reproduz, mas, simultaneamente, impõe padrões inalcançáveis. Embora a cisgeneridade acarrete violências até mesmo sobre corpos cisgêneros, ainda é amplamente percebida e reforçada como intrínseca e natural. Diante disso, esta pesquisa revisita criticamente a imposição colonial do sistema binário e hierárquico de gênero e enfatiza a urgência em problematizar e desestabilizar as violências que ele gera e perpetua. |
Abstract: | The present study investigated how gender, sexuality, and race intersect and affect dissident
existences, as well as cisgender subjectivities. Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí (2021), in her critical work
The Invention of Women, discusses the Western essentialist perspective, which imposes gender
as a universal category, neglecting alternative dynamics of social organization. In pre-colonial
Yoruba society, relationships were based on seniority; however, with colonization, a binary
gender structure was established, erasing and marginalizing pre-existing social structures.
Through Portuguese colonial domination, this imposition also affected the Indigenous peoples
living in Pindorama. The history narrated from our perspectives reveals that the invasion by
colonizers imposed a monoculture of affections, customs, and ways of life. Thus,
nonconformity or resistance to these impositions turned Indigenous people and enslaved
Africans into targets of punishment, torture, and extermination. One of the purposes of this
research was to refute the narrative of the "white savior," still used to justify the continuation
of the multiple violences committed since colonial domination. In contemporary times, the
cycle repeats itself: designed for coercion and social control, the State partially favors specific
bodies—cisgender, white, heterosexual, Christian, and neurotypical men. The consolidation
and continuity of a system that operates in favor of the ideal of "normality" is one of the
colonial legacies that persist in contemporary power structures. Resisting and countering
institutional and oppressive conservatism, dissident individuals have been occupying
positions in the State, such as Erika Hilton (PSOL) and Thabatta Pimenta (PSOL). By
articulating knowledge produced by dissident sentipensadores and emphasizing discussions
on gender, sexuality, and race, this study examined social agreements, whether institutional or
not, that position dissident existences as abnormal and pathological. Additionally, it analyzed
how cisgenderness was introduced, naturalized, and reinforced in institutions, discussing the
ways in which cisnormativity affects both binary and non-binary existences. Moreover, it
reflected on how the imposition of internal standards within the gender-dissident community
impacts non-binary people. This research adopted a qualitative approach, selecting
Autoethnography and Life History as methodological frameworks. To explore how
cisgenderness affects both those who conform to the norm and those who resist it, I conducted
ten semi-structured interviews. The discussions were developed through Narrative Analysis
from a critical and intersectional perspective. Based on the experiences narrated in my
autoethnography and the dialogues constructed, I sought to provoke questions and reflections
on power structures and resistance movements. The findings of this research highlight that
cisgenderness operates as a normative regime that, despite appearing neutral, imposes rigid
standards and excludes those who do not conform. I identified an ambiguous nature in
cisgenderness: while it grants privileges to those who reproduce it, it simultaneously enforces
unattainable standards. Although cisgenderness inflicts violence even upon cisgender bodies,
it is still widely perceived and reinforced as intrinsic and natural. In this regard, this research
critically revisits the colonial imposition of the binary and hierarchical gender system and
emphasizes the urgency of problematizing and destabilizing the violences it generates and
perpetuates. RESUMEN El presente estudio investigó cómo el género, la sexualidad y la raza se interseccionan y afectan las existencias disidentes, así como las subjetividades cisgénero. Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí (2021), en su obra crítica La invención de las mujeres, discute la perspectiva esencialista occidental, que impone el género como una categoría universal, ignorando dinámicas alternativas de organización social. En la sociedad yoruba precolonial, las relaciones se basaban en la jerarquía de la antigüedad; sin embargo, con la colonización, se instauró una estructura de género binaria que borró y marginó formas de organización ya existentes. A través de la dominación colonial portuguesa, esta imposición también afectó a los pueblos originarios que vivían en Pindorama. La historia narrada desde nuestras perspectivas revela que la invasión de los colonizadores impuso una monocultura de afectos, costumbres y formas de vida. De esta manera, la no conformidad o la resistencia a estas imposiciones transformó a los indígenas y africanos esclavizados en objetivos de castigos, torturas y exterminio. Uno de los propósitos de esta investigación fue refutar la narrativa del "blanco salvador", todavía utilizada para justificar la continuidad de las múltiples violencias cometidas desde la dominación colonial. En la contemporaneidad, el ciclo se repite: diseñado para la coerción y el control social, el Estado favorece parcialmente a cuerpos específicos: hombres cisgénero, blancos, heterosexuales, cristianos y neurotípicos. La consolidación y continuidad de un sistema que opera a favor del ideal de "normalidad" es una de las herencias coloniales que persisten en las estructuras de poder contemporáneas. Resistiendo y enfrentando el conservadurismo institucional y opresor, personas disidentes han ocupado cargos en el Estado, como Erika Hilton (PSOL) y Thabatta Pimenta (PSOL). Articulando saberes producidos por sentipensadores disidentes y con énfasis en las discusiones sobre género, sexualidad y racialidad, este estudio examinó acuerdos sociales, institucionales o no, que posicionan las existencias disidentes como anormales y patológicas. Además, analizó cómo la cisgeneridad fue introducida, naturalizada y reforzada en las instituciones, discutiendo las formas en que la cisnormatividad afecta tanto a las existencias binarias como a las no binarias. Asimismo, reflexionó sobre cómo la imposición de normas internas dentro de la comunidad disidente de género atraviesa a las personas no binarias. De carácter cualitativo, esta investigación adoptó la Autoetnografía y la Historia de Vida como enfoques metodológicos. Para explorar cómo la cisgeneridad afecta tanto a las personas inscritas en la norma como a las disidentes, realicé diez entrevistas semiestructuradas. Las discusiones fueron desarrolladas mediante Análisis Narrativo, desde una perspectiva crítica e interseccional. A partir de las experiencias narradas en mi autoetnografía y de los diálogos construidos, busqué provocar cuestionamientos y reflexiones sobre las estructuras de poder y los movimientos de resistencia. Los hallazgos de esta investigación evidencian que la cisgeneridad opera como un régimen normativo que, a pesar de aparentar neutralidad, impone estándares rígidos y excluye a quienes no los siguen. Identifiqué un carácter ambiguo en la cisgeneridad: mientras ofrece privilegios a quienes la reproducen, al mismo tiempo impone estándares inalcanzables. Aunque la cisgeneridad genera violencias incluso sobre cuerpos cisgénero, sigue siendo ampliamente percibida y reforzada como intrínseca y natural. En este sentido, esta investigación revisita críticamente la imposición colonial del sistema de género binario y jerárquico, y enfatiza la urgencia de problematizar y desestabilizar las violencias que genera y perpetúa. |
Palavras-chave: | Direitos Humanos - LGBTQIAPNB Dissidência de gênero Racialidade - Contracolonialismo Cisgeneridade Gender dissent LGBTQIAPNB+ Human Rights Raciality Countercolonialism Cisgenderity Disidencia de género Derechos Humanos LGBTQIAPN+ Racialidad Contracolonialismo Cisgeneridad |
CNPq: | CNPQ::CIENCIAS HUMANAS |
Idioma: | por |
País: | Brasil |
Editor: | Universidade Federal da Paraíba |
Sigla da Instituição: | UFPB |
Departamento: | Cidadania e Direitos Humanos |
Programa: | Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas |
Tipo de Acesso: | Acesso aberto Attribution-NoDerivs 3.0 Brazil |
URI: | http://creativecommons.org/licenses/by-nd/3.0/br/ |
URI: | https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/35584 |
Data do documento: | 21-Fev-2025 |
Aparece nas coleções: | Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) - Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos |
Arquivos associados a este item:
Arquivo | Descrição | Tamanho | Formato | |
---|---|---|---|---|
ThalitaSuyaneCostaSilva_Dissert.pdf | 8,85 MB | Adobe PDF | Visualizar/Abrir |
Este item está licenciada sob uma
Licença Creative Commons